GERAÇÃO GAGÁ: Entre o Profano e o Sagrado

 Quando uma pessoa idosa necessita utilizar fralda geriátrica, surge uma situação delicada, a perda do controle de esfíncteres, vergonha e tentativas de dissimular a situação, com fraldas cada dia mais confortáveis e de menor visibilidade. No entanto, quando a utilização das fraldas se torna necessária não apenas para escape de urina, mas para as fezes também, normalmente se fala que a pessoa ficou “gagá”, até fraldas está usando.

Pois mediante toda a cobertura da mídia para o mega show de Lady Gaga, na praia de Copacabana, com publico estimado em dois milhões e cem mil pessoas, algumas dessas pessoas permaneceram em frente ao Copacabana Palace, por mais de vinte e quatro horas aguardando sua chegada, o movimento nos trouxe situações, no mínimo curiosa sobre o comportamento desses jovens, alguns não tão jovens assim. A espera dos fãs não funciona como a reserva de lugares em filas para atendimento no SUS, onde alguns esperam para pegar a ficha e depois vender ou repassar para o devido interessado. Esta espera implica em não sair dali, não descansar, ficar alerta com qualquer movimento que possa ser prenúncio da chegada do ídolo. Portanto, nos perguntamos: “Mas não saem nem pra fazer xixi?”  Não, não saem nem pra fazer xixi, alguns seguram o máximo que podem, outros jovens mais prevenidos(?!) usam fraldas geriátricas, para continuarem na espera….

Quando se trata de um grande show com um ídolo da envergadura de Lady Gaga, pessoas ficaram em frente ao palco guardando lugares privilegiados por mais de 24 horas, alguns disseram estar ali há mais de cinco dias, fazendo de tudo e mais um pouco para estar muito perto da grande diva. Alimento, cadeiras, sacos de dormir, tudo planejado, e as fraldas também, com excrementos mais significativos que apenas a inocente urina, acredite: eles fizeram cocô nas fraldas também, e a população conservadora de Copacabana ficou muito mais do que escandalizada, com reclamações das pessoas sobre as fraldas recheadas de cocô jogadas pela praia.                     

Certo! O show foi deveras um espetáculo, a população em sua maioria LGBTQI+, lotou e embelezou o cenário do show com coreografia maravilhosa, seja pelo uso dos leques coloridos, outro artefato utilizado por senhoras idosas perante o calor.

Fico me perguntando aqui: Um espetáculo Profano ou Sagrado, onde ela brinca com a morte, esqueletos e monstros, denominando seus fãs de Little Monsters e ao mesmo tempo apresenta músicas singelas, intituladas Shallow, onde a busca pela autenticidade e profundidade nos relacionamentos em oposição às relações líquidas e superficiais da atualidade trazem a afetividade desejada nos relacionamentos, com Abracadabra novamente falando sobre desafios perante a sociedade para nos apresentarmos como somos, sem preconceitos e máscaras.

Profano por ser tão genuíno e libertador para uma população que não encontra preconceitos em literalmente “cagar” nas fraldas, assumir sua orientação sexual, chocar a velha população de Copacabana, uma das regiões que concentra maior número de pessoas idosas no Rio de Janeiro, além de transformar o reduto da burguesia no Hotel Copacabana Palace numa zorra total com gritos frenéticos, beijos gay, e quem sabe-se lá o que mais.

Sagrado, pois liberta-se aqui uma parcela da população oprimida de dá voz ao grito dos excluídos com coreografia e canções que dão coragem e os fazem pertencer a um grande grupo que chora, celebra e ama sua diva, com adoração e até algum fanatismo. E quem terá a coragem de repudiar o fanatismo religioso, o fanatismo político em contrariedade ao fanatismo musical aos ídolos que levam multidões a estádios, ou palcos da vida.

Alguns retrógrados poderão dizer: “Mas nossa geração não agia assim, éramos menos transgressores!” Mentira ou falta de memória histórica, pois a geração de pessoas idosas de atualmente, delirou pelos Beatles, pela Jovem Guarda, lutou pelos direitos de homossexuais, contra a ditadura, pela liberdade sexual, enfim: a juventude transviada da época olha perplexa a juventude de hoje, capaz de profanar ou tornar sagrado muitas outras situações, seja no mundo artístico ou na vida cotidiana.

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