OS FIOS GRISALHOS

A prática de pintar os cabelos remonta a cerca de 4000 anos, com os egípcios usando “henna” – corante natural de planta – para cobrir os cabelos brancos.

         No entanto, a comercialização da primeira tintura sintética para cabelo, a “Aureole”, ocorreu em 1907, com Eugene Schueller, fundador da L’Oréal, dando início à era da química capilar.

         Aos 62 anos, Demi Moore diz estar disposta a ‘abraçar’ fios grisalhos. Opa, não é a única. Tempos mudam.

         Brigitte Bardot, 90 anos, diz que não tem medo de envelhecer, porque considera o processo de envelhecimento algo natural, que vai acontecer com todo mundo.

         Júlia Robert que fez “Uma linda mulher” há 35 anos, está com 57 anos, tem uma visão muito progressista acerca do passar do tempo. Recorrentemente, ela expressa a sua visão positiva sobre a velhice, destacando a importância de envelhecer com dignidade, humor e serenidade.

         Da mesma forma nossa premiadíssima atriz Fernanda Torres Fernanda Torres, com seus 59 anos, tem demonstrado uma visão positiva e autêntica sobre o envelhecimento e a maturidade.

         Por que quatro mulheres famosas? Porque no mundo moderno e midiático são estas pessoas que mais aparecem para os outros, as outras, para o senso comum.

         Quem andou aparecendo desde a pandemia com fios bem grisalhos foi Glória Pires, uma referência para muitas mulheres.

         Falava-se sempre que havia um charme quando homens assumiam seus grisalhos, como o festejado Richard Gere. Mas o nosso jornalista de primeira grandeza, Caco Barcelos, desfila no vídeo com seus grisalhos faz tempos.

         Pessoalmente, nunca me passou pela cabeça pintar meus grisalhos. Faz tempo que a brancura pintou aqui.

GOSTO POPULAR

         Pessoas com menor poder aquisitivo caíram nos últimos tempos numa onda de pintar cabelos, colorindo, fazendo mechas. Seria reflexo da busca por auto expressão, a influência das tendências de moda e a possibilidade de transformar a imagem e a personalidade.

         A moda dos cabelos coloridos e mechas permite que as pessoas experimentem diferentes estilos e cores, expressando sua individualidade. É o que me falam, é o que leio. Será isso?

PENSANDO A VIDA

         A Metamorfose da vida, a arte de envelhecer, deve ser pensada, vivida, repensada, pois deve prevalecer antes de tudo o bem estar. Está bem fazendo mechas, minha cara, tudo bem. Mas e o custo disto para uma pessoa menos aquinhoada? Deixará de comer uma comida saudável para comer um “hot dog”? Aí, está o erro. Nós temos que questionar sim.

         O desserviço da mídia babona de falar e falar que o megainvestidor Warren Buffett é conhecido por sua dieta simples e incomum, que inclui muita fast food, refrigerantes e doces é um erro sem tamanho.

         As pessoas menos conscientes e críticas entram nestas ondas de que o famoso pode, se sai bem, vive bem, eu posso fazer as mesmas asneiras. Não, não pode. Nem deve.

         Não é porque meu avô fumou palheiro a vida toda e morreu aos 90 que vou fumar cigarro, todo cheio de venenos, que o fumo em corda não tinha.

         A dona Tal que é empregada que rala, esfrega, lava, enxuga corre para uma “estética” para por unhas, aumentá-las, pintar disto ou daquilo não sei se segue o caminho mais correto. E você, o que acha?

         Eu perguntaria, em especial, para as meninas, repetindo as frases de Lady Gaga, em Shallow:

                  Me diga uma coisa, garota

                   Tu estás feliz neste mundo moderno?

                   Ou precisas mais?

                   Tem alguma coisa mais que procuras?

         Pois, ao chegar à velhice, teria respostas que fossem além do que pintar o cabelo, gastar uma naba, do que ter os grisalhos que não incomodam ninguém.

ECONOMIA PRATEADA

         Nesta onda do “grisalho” tem também os espertos, os marqueteiros de plantão, que usando de símbolos, publicidade se faz com símbolos e emoção, estão fazendo a festa com o papo de “economia prateada”.

         Economia prateada existe para as classes médias altas e a burguesia. Para o povo a economia é da cor que o dinheiro pode cobrir.

         Não há prata ou como dizem os argentinos de Milei: “no hay plata”.

         Para as pessoas idosas o bom mesmo é curtir a vida, sem cair nos papos mercadológicos, nos modismos e no consumismo.

         Vida em coletividades, com a família, com amigos, aproveitando todos os espaços públicos, fugindo das clausuras que muitos filhos e netos querem ter os seus.

         Autonomia e ação são as palavras de ordem dos “velhos” de hoje em dia.

         Aprendemos com Lady Gaga: “Tem alguma coisa mais que procuras”? Sim, muito mais que pintar cabelos e cuidar demais das unhas.

         Cuidar da cabeça e da comida, antes de tudo.

ADELI SELL é professor e escritor.

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